22 julho, 2008

No fundo do mar

Volto para matar saudades, mas também para concluir o curso Advanced para mergulhos mais profundos, porque por vezes sente-se a necessidade de ir mais fundo, ou simplesmente ao fundo.

Volto porque preciso de tudo aquilo que me dás.
Que saudades... este sossego, deixar embalar-me no silêncio dos teus braços, contemplando a valsa das gorgónias.
Andar aqui embalado, olhar para o teu fundo e ver a areia onde o tempo poisou como um lençol de seda, leve e macio, e ali ficou, estático como as lembranças.
Nesta sempre curta hora de prazer, deixei todo o lastro da minha vida lá em cima, lá fora, onde rebentam ondas de saudades.
Ondas que defazem rochas, que com a ajuda do tempo passam a areia, areia que vem para o fundo, onde repousa o tempo.

Agora tudo faz sentido, porque em nada se pensa. Apenas ver, sentir e deixar-me levar na valsa onde tudo e todos se respeitam dentro das leis da natureza. E nisto, apenas invadi a privacidade de um jovem Safio que estava a descansar na sua gruta. Como era o exame "Fotografia Subaquática" tive que tirar umas fotos que aproveito agora para partilhar, embora as condições de visibilidade, a quantidade de peixe e a habilidade do fotografo não fossem as melhores.

Condições de mergulho

temp água.15ºC
visibilidade. 3metros
local. Jardim dos polvos (que foram de férias para o algarve)
prof. max. 28 metros
duração. 47 min

Fotos por ordem
a entrada,
costa de cascais, nudibrânquio, estrela-do-mar, eu, eu, jorge, safio, fundo, Acionário, Judia, Pargo, Espirógrafo























17 julho, 2008

Música para todos

Ontem, à falta de melhor programa decidi ir ao concerto de guitarras no Anfiteatro Fernando Lopes-Graça em Tomar.
Prevendo alguma enchente, fui um pouco mais cedo para ficar num bom lugar e comprar bilhete.
Ora...

1ª surpresa agradável - entrada gratuíta.

2ª surpresa agradável - Desempenho dos Guitar'Essonne que é uma Pequena orquesta de cordas, dirigida por um Português residente em terras gaulesas, em que os restantes 12 guitarristas eram Franceses. Tocaram musica celta, Renascentista, Barroca, Reggea, Blues, Jazz acompanhados com bateria, e Latino-Americanas que incluiram Brasileiras e como cereja em cima do bolo, e bem acompanhados por um acordionista, tocaram um Tango do Astor piazzolla, ainda por cima o Libertango, que é dos meus favoritos.

3ºsurpresa agradável - O Acordionista, produto nacional, cujo nome não me recordo, era mesmo muito bom. A solo tocou mais 2 tangos, e algo que ainda não tinha assistido, meteu aquele instrumento vocacionado em portugal para a musica foclore a tocar La Primavera do Vivaldi. Impressionante foi ouvir uma orquesta dentro de um acordeão, foi um momento de magia, foi mesmo muito bom... ver aquilo que todos sabemos, mas é raro ver instrumentos vocacionados para um estilo, tocarem outro, é o que adoro na musica.
A musica é magia! Pequenos pedaços de madeira, metal e peles fazem-nos viajar no espaço e no tempo, quebram fronteiras, basta escutar com atenção e até consegue provocar arrepios, deixa-nos tristes, nostalgicos, felizes, apaixonados, e enfim... acho que nos torna ainda mais humanos, basta permitir naturalmente, independentemente do estilo de musica.
O que viajei com o Libertango foi tão intenso que não consigo exprimir com palavras.

4ª surpresa agradável - O quinteto de guitarras, espanhol - Dionisio Aguado. Que tocaram desde musica Clássica, a Bossa nova e Flamenco.


surpresa desagradável - Mesmo sendo gratuíto, a plateia do anfiteatro estava menos de meia, e é caso para dizer, a cultura mais do que nunca está ao alcance de todos. Continua a haver bons programas no interior do país e a preços acessíveis, é pena... pelo menos aqueles artistas mereciam mais palmas.

15 julho, 2008

Junto ao rio...

Estou de volta à minha terra, ao meu rio.
Sentado, observo na margem direita que mora no outro lado, a cidade onde nasci, a antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto, mas cedo fui trasladado para a margem esquerda, onde cresci, construi amizades e estabeleci das mais importantes ligações na minha vida, a relação que tenho com este rio. Eternamente agarrada a essa, e mais importante, era a relação com os meus companheiros do rio. Eu, o Rui, o João e a Ritinha, sim Ritinha, decidimos admitir a Rita no grupo apenas porque passou com distinção nas provas de alcance do cuspo e arroto a 4 semi colcheias por compasso. Digo distinção para não dizer vencedora, o que foi humilhante para nós, porque até ao seu ingresso, a Ordem secreta dos ratos do Taburno (local de reunião e pilhagem) era exclusivamente constituída por candidatos a rapaz e nunca pensamos ser vencidos, especialmente por uma rapariga.
Naquela época, éramos garotos e, passávamos o dia tomar banho no rio e arremessar pedras aos rabelos.
A antiga carcaça do velho Chico da cerca era de longe a mais fustigada, também por ele ser o mais rezingão e o valente detentor da Arte de debitar palavrões à moda do Porto, ou seja, no fundo são palavrões que saem da boca de mão dada. Realmente era fantástico, lembro-me perfeitamente de deliciarmo-nos com aquelas sinfonias até à rouquidão, porque aquele campeão conseguia elaborar frases inteiras em que o único termo simpático e pouco utilizado, era “seus filhos” e realmente éramos quase filhos dele, sem a nossa temível presença, ele passaria os dias cabisbaixo com ombros descaídos, cabeça tombada para baixo e protegida pela gasta boina preta, que apenas permitia descortinar os cigarros quase não fumados.
Lembro-me também do dia em que ele surpreendeu-nos, quando após o inicio de um dos nossos bombardeamentos cerrados, vimos o velho Chico da cerca desfilando calmamente pelo rabelo como um tartesso, até baixar-se e entrar como um rato pelo taburno. Esperamos uns bons segundos para não desperdiçarmos munições, porque o divertimento não era apenas acertar no barco, mas também ver o velho rezingão esquivando-se das pedras enquanto cantarolava o tal palavreado sempre iniciado por “Oh seus filhos”. Naquele compasso de espera, de braços esticado para trás como autenticas catapultas, aguardávamos ansiosamente que o velho saísse daquela câmara, até que o Rui disse a frase chave, Oh Velho maricas vem cá para fora, e o malvado saiu com algo na mão esticando o longo braço para trás. Naquele instante reparamos que das palavras passou tinha passado para a acção.
O Chico da cerca, tinha planeado uma feroz retaliação e surpreendeu-nos com uma violenta investida tocada a fisga, cada um de nós fugiu para seu lado, e só me recordo de ouvir uma coisa inédita, as pedras lançadas daquela fisga assobiavam, parece que ainda consigo ouvir o som das pedras cantantes ressaltando e ricocheteando em tudo o que era chão e paredes dos velhos barracões. O velho dava gargalhadas, e gritava, Então campeões? Afinal quem é o maricas? Naquele dia ficamos tristes, por ele ter trocado os tradicionais e familiares insultos verbais pelas pedras cantantes, e com isso, quase que nos sentiamos traídos. Voltando ao presente, olho para o rio, para os rabelos, e na minha expressão surge um sorriso que é antigo.
Eu adorava o velho, acho que aquela brincadeira fútil tirou-lhe anos de cima dos ombros descaídos, e naquele momento ele voltou a ser criança, perdendo por instantes toda a amargura que arcava naquele semblante. Tenho saudades tuas, velho Chico, Oxalá estejas como eu estou agora, sorrindo por lembrar-me dessas brincadeiras, porque também foi assim que crescemos todos na beira deste rio, rio de trabalho, rio que une, rio que separa, rio que liga, rio que rega, rio que trás e leva, rio da nossa vida. Crescemos também com estes cenários de assistir a um velho viúvo amargo como fruta amadurecida na sombra, de costas voltadas à vida, com filhos e netos ausentes, voltar a divertir-se e a sentir que a vida ainda tinha muito para lhe dar. Naquele instante, quando ele saiu do taburno sentimos que éramos todos colegas e amigos, não tínhamos idade e brincámos como se não existissem abandonos, doenças, trabalhos de casa, pais bêbados, ou desilusões. Estávamos simplesmente ali, alegres, sem passado e sem futuro, e foram dos melhores momentos da nossas aventuras, e penso que também do velho Chico.

Afinal a brincar, também se cresce.

01 julho, 2008

Passeios na Cidade Invicta - 1



Durante o descanso... uma brincadeira com o bilhete


Escultura em tronco de árvore - O Abraço de Anjos


Escultura - A Colher do Jardineiro

o Jardim principal da Casa de Serralves... com a Água que vai em direcção ao Douro

A Casa de Serralves com a cor da terra, ou a terra da cor da Casa de Serralves.

Tree Skin

Parque de Serralves - Os meus braços

Parque Serralves - ... de Saída

Jardim do Palácio Cristal - O postigo do mar (pte da arrábida)

Jardim do Palácio de Cristal - o Desfile do Pavão e Gaivota

13 junho, 2008

Noites estreladas

Starry Night de Vicent Van Gogh

Poderia estar fascinado pela então recente descoberta da Via Lactea, ao ponto de representa-la numa obra sua, e com isso apresentava também a força (em movimento) em que ele acreditava. Dizem que tinha uma obsessão religiosa, e talvez a torre da igreja seja a única edificação humana a alcançar o céu agora iluminado com algum propósito.
Talvez pensasse que o cipreste separava o bem do mal, as trevas da luz, e pela mesma razão se tenha criado a tradição de limitar os cemitérios com estas "cercas-vivas" para que não houvessem almas perdidas deambulando pelas localidades, indo direitinhas para o céu ou enterrando-se cada vez mais até ao inferno.
Já não me interessam estas e outras interpretações, apenas coloquei a imagem do quadro neste post porque gosto imenso dele, e porque neste verão apenas quero contemplar as noites estreladas.

09 maio, 2008

Castelos de Portugal - Ourem


Meu homónimo... o 3º Conde de Ourem







07 abril, 2008

A Despedida - Peso do Vazio

O peso do vazio

Cemitério Municipal de Tomar
Quarta feira, 26 de Março de 2008

Eram família, amigos, conhecidos, ou simples admiradores. Alguns vieram de longe para a ver. Uns procuram-se nos olhares, em simples cumplicidades, outros apenas olham para o infinito procurando razões e lógicas, e outros escondem os olhos no chão cravando o olhar nesta terra de penosas despedidas.
Quantas lágrimas terão caído nesta terra? Nesta pequena porção de terra, nesta alameda que liga o portão da cidade dos vivos à Capela, ladeada por vistosas e exuberantes Jazigos, que são um género de necroMoradias em pedras ornamentais. Alguns chegam a ter mais pedra, e mais requintada mão de obra de cantaria do que a própria Capela do cemitério, que só ganha em altura, mas não por muitos metros.
Divagando, dou por mim a lembrar as origens das expressões “sete palmos de terra”, “bebedeiras de caixão à cova”. Inicia-se uma conversa nas vizinhanças e alguém diz: Quero doar os meus órgãos para investigação, eu comento: Eu quero ser cremado.
No final de contas tanto me faz, mas seria engraçado voltar a ser pó, pensei
“Pó ao pó”, porque no final de contas, este veículo que nos transporta de um lado para o outro, não passa de um conjunto arrumado de moléculas. Quero ser cremado, depois de cremado pesado e medido. Quero que se saiba qual o peso seco e o volume, subtraindo aos valores em vida determina-se o Peso do Vazio. Para os científicos, esse vazio no fundo corresponderá a +/- a 60% do peso do corpo, percentagem que vai decrescendo à medida que a idade avança.
Mas para nós, naquela hora, naquele local, nada disto interessava.
Para nós, o peso do vazio, é a ausência que agora carregamos às costas, e a memória deve ser a nossa melhor bengala. É por isto tudo que se sofre. É por isto tudo, que as lágrimas caem.

12 fevereiro, 2008

Inquietudes

São voltas e voltas
de uma alma que não cabe no corpo
Partiu para longe, em busca de uma paz maior
levando consigo malmequeres frescos,
que iluminavam todo o campo.
Neste silêncio, agora escuro
já se ouve nas copas do bosque,
o vento bradando hinos de saudade.

03 dezembro, 2007

As cores do Outono

num fim de semana de outono...
Carruagem 21, lugar 86 do comboio Intercidades
Viagem: entroncamento - covilhã
Proximidades de Belver

Levo o jornal, um livro, leitor mp3.
A leitura do jornal torna-se interessante, o livro que vai na mala é uma porta para outros mundos, e o leitor mp3 que vai no bolso é um veiculo que me pode levar a outras viagens.
Faço um esforço para manter os olhos concentrados nas letras e imagens do jornal, mas é inevitável, a paisagem é demasiado bonita para ser ignorada.
Dois anos no alto Alentejo permitiram-me conhecer alguns locais como a praia do Alamal, Belver, e as portas de Rodão, entre outros menos conhecidos, mas agora dentro desta lagarta de ferro que vai serpenteando as margens do rio, ora na margem esquerda, ora na margem direita, os meus olhos ficam pasmados com a beleza que encontram em cada recanto inexplorado, vejo pequenas albufeiras que entram pelos vincos ou dobras dos montes em mescla de verde e cinza, que vistos ao longe parecem mantos, lençóis estendido a beira do rio.
Algumas dessas albufeiras têm pequenas ilhas, povoadas de freixos, choupos e amieiros que tentam passar despercebidos na sombra, mas as suas cores outonais são denunciadas pela luz cintilante e intermitente que é reflectida pelas águas deste rio.
Nisto passa por mim uma criança que é maquinista de um outro tipo de composição, atrás dela a mãe que por sua vez dá a mão ao ultimo vagão humano, que aparenta ser tia da pequena e jovem locomotiva. O ultimo vagão desta composição humana, é invisual ou cega, como preferirem, no fundo em linguagem de criança, não consegue ver. Não consegue ver tudo aquilo que eu estava aqui há pouco a relatar, e as tantas dou por mim a olhar pela janela do comboio espreitando a tal paisagem e pensar nessa sensação.
Passados uns segundos, entramos todos num túnel e tudo ficou escuro, e eu sorri...

02 novembro, 2007

Imensidão-memórias de um nómada

...de brisa passa a vento, que agora sopra estalando, esticando velas e cordas, encurvando esteiras e testas, e neste silêncio aflito apenas se ouve o ranger de cordas e madeiras.
O mastro que era apenas um pau, limitado a gerar sombra em dias soalheiros e pouco mais, range agora de alegria, voltou a ser o mastro imponente que agora faz jus a seu nome.


Olho em redor e vejo risos e olhares cúmplices, que se tocam e abraçam, brindando alegria, olhos vivos de quem aprendeu a ter esperança até à ultima gota de vida.
Olhos de quem aprendeu a empilhar o medo, para trepar nele e subir mais alto.
olhos que mostram a grandeza de um ser humano, que se agiganta perante imensidão do mar.
Vou sorrindo também, e agora no horizonte quase que consigo medir este mar.
Escondido na imensidão sei que reside o medo, porque o medo nasce naquilo que é imprevisível, naquilo que não controlamos.

Como na vida, o mar traz tempestades que nos levam quase sempre qualquer coisa, no fundo temos o medo de perder. Aprendemos todos juntos a lidar com este medo.
Por isso, seja qual for o preço a pagar, atravessamos imensidões, e vencemos sempre as tempestades, porque antes de chegarmos, já lá estamos.

No fundo, Vencemos porque apenas quisemos vencer.