13 junho, 2008

Noites estreladas

Starry Night de Vicent Van Gogh

Poderia estar fascinado pela então recente descoberta da Via Lactea, ao ponto de representa-la numa obra sua, e com isso apresentava também a força (em movimento) em que ele acreditava. Dizem que tinha uma obsessão religiosa, e talvez a torre da igreja seja a única edificação humana a alcançar o céu agora iluminado com algum propósito.
Talvez pensasse que o cipreste separava o bem do mal, as trevas da luz, e pela mesma razão se tenha criado a tradição de limitar os cemitérios com estas "cercas-vivas" para que não houvessem almas perdidas deambulando pelas localidades, indo direitinhas para o céu ou enterrando-se cada vez mais até ao inferno.
Já não me interessam estas e outras interpretações, apenas coloquei a imagem do quadro neste post porque gosto imenso dele, e porque neste verão apenas quero contemplar as noites estreladas.

09 maio, 2008

Castelos de Portugal - Ourem


Meu homónimo... o 3º Conde de Ourem







07 abril, 2008

A Despedida - Peso do Vazio

O peso do vazio

Cemitério Municipal de Tomar
Quarta feira, 26 de Março de 2008

Eram família, amigos, conhecidos, ou simples admiradores. Alguns vieram de longe para a ver. Uns procuram-se nos olhares, em simples cumplicidades, outros apenas olham para o infinito procurando razões e lógicas, e outros escondem os olhos no chão cravando o olhar nesta terra de penosas despedidas.
Quantas lágrimas terão caído nesta terra? Nesta pequena porção de terra, nesta alameda que liga o portão da cidade dos vivos à Capela, ladeada por vistosas e exuberantes Jazigos, que são um género de necroMoradias em pedras ornamentais. Alguns chegam a ter mais pedra, e mais requintada mão de obra de cantaria do que a própria Capela do cemitério, que só ganha em altura, mas não por muitos metros.
Divagando, dou por mim a lembrar as origens das expressões “sete palmos de terra”, “bebedeiras de caixão à cova”. Inicia-se uma conversa nas vizinhanças e alguém diz: Quero doar os meus órgãos para investigação, eu comento: Eu quero ser cremado.
No final de contas tanto me faz, mas seria engraçado voltar a ser pó, pensei
“Pó ao pó”, porque no final de contas, este veículo que nos transporta de um lado para o outro, não passa de um conjunto arrumado de moléculas. Quero ser cremado, depois de cremado pesado e medido. Quero que se saiba qual o peso seco e o volume, subtraindo aos valores em vida determina-se o Peso do Vazio. Para os científicos, esse vazio no fundo corresponderá a +/- a 60% do peso do corpo, percentagem que vai decrescendo à medida que a idade avança.
Mas para nós, naquela hora, naquele local, nada disto interessava.
Para nós, o peso do vazio, é a ausência que agora carregamos às costas, e a memória deve ser a nossa melhor bengala. É por isto tudo que se sofre. É por isto tudo, que as lágrimas caem.

12 fevereiro, 2008

Inquietudes

São voltas e voltas
de uma alma que não cabe no corpo
Partiu para longe, em busca de uma paz maior
levando consigo malmequeres frescos,
que iluminavam todo o campo.
Neste silêncio, agora escuro
já se ouve nas copas do bosque,
o vento bradando hinos de saudade.

03 dezembro, 2007

As cores do Outono

num fim de semana de outono...
Carruagem 21, lugar 86 do comboio Intercidades
Viagem: entroncamento - covilhã
Proximidades de Belver

Levo o jornal, um livro, leitor mp3.
A leitura do jornal torna-se interessante, o livro que vai na mala é uma porta para outros mundos, e o leitor mp3 que vai no bolso é um veiculo que me pode levar a outras viagens.
Faço um esforço para manter os olhos concentrados nas letras e imagens do jornal, mas é inevitável, a paisagem é demasiado bonita para ser ignorada.
Dois anos no alto Alentejo permitiram-me conhecer alguns locais como a praia do Alamal, Belver, e as portas de Rodão, entre outros menos conhecidos, mas agora dentro desta lagarta de ferro que vai serpenteando as margens do rio, ora na margem esquerda, ora na margem direita, os meus olhos ficam pasmados com a beleza que encontram em cada recanto inexplorado, vejo pequenas albufeiras que entram pelos vincos ou dobras dos montes em mescla de verde e cinza, que vistos ao longe parecem mantos, lençóis estendido a beira do rio.
Algumas dessas albufeiras têm pequenas ilhas, povoadas de freixos, choupos e amieiros que tentam passar despercebidos na sombra, mas as suas cores outonais são denunciadas pela luz cintilante e intermitente que é reflectida pelas águas deste rio.
Nisto passa por mim uma criança que é maquinista de um outro tipo de composição, atrás dela a mãe que por sua vez dá a mão ao ultimo vagão humano, que aparenta ser tia da pequena e jovem locomotiva. O ultimo vagão desta composição humana, é invisual ou cega, como preferirem, no fundo em linguagem de criança, não consegue ver. Não consegue ver tudo aquilo que eu estava aqui há pouco a relatar, e as tantas dou por mim a olhar pela janela do comboio espreitando a tal paisagem e pensar nessa sensação.
Passados uns segundos, entramos todos num túnel e tudo ficou escuro, e eu sorri...

02 novembro, 2007

Imensidão-memórias de um nómada

...de brisa passa a vento, que agora sopra estalando, esticando velas e cordas, encurvando esteiras e testas, e neste silêncio aflito apenas se ouve o ranger de cordas e madeiras.
O mastro que era apenas um pau, limitado a gerar sombra em dias soalheiros e pouco mais, range agora de alegria, voltou a ser o mastro imponente que agora faz jus a seu nome.


Olho em redor e vejo risos e olhares cúmplices, que se tocam e abraçam, brindando alegria, olhos vivos de quem aprendeu a ter esperança até à ultima gota de vida.
Olhos de quem aprendeu a empilhar o medo, para trepar nele e subir mais alto.
olhos que mostram a grandeza de um ser humano, que se agiganta perante imensidão do mar.
Vou sorrindo também, e agora no horizonte quase que consigo medir este mar.
Escondido na imensidão sei que reside o medo, porque o medo nasce naquilo que é imprevisível, naquilo que não controlamos.

Como na vida, o mar traz tempestades que nos levam quase sempre qualquer coisa, no fundo temos o medo de perder. Aprendemos todos juntos a lidar com este medo.
Por isso, seja qual for o preço a pagar, atravessamos imensidões, e vencemos sempre as tempestades, porque antes de chegarmos, já lá estamos.

No fundo, Vencemos porque apenas quisemos vencer.


09 outubro, 2007

Fome de vida

tenho fome, senhores.
quero comer esse ódio e raiva,
para que nao reste nada,
nem sequer uma migalha.


tenho sede, senhores,
deixai-me beber um pouco dessas cores
para que esta digestão,
afinal, não seja brava.

23 setembro, 2007

O sopro do Outono

Numa forte rajada de vento
Ela desprendeu-se
Como uma castanha que se solta do ouriço

Na falta da carne e ossos eles abraçam o vento
Contam-lhe os segredos, ele parte
voando sobre os soutos, soltando palavras nos Castanhos.

19 setembro, 2007

Por esse rio acima...

Albufeira da Barragem da Valeira - São joão da pesqueira
Sábado, 17 de Setembro de 2007
08h30


Estou no meio, entre as 2 margens. A norte a margem brava, natural, onde arvores e arbustos fizeram por merecer o seu espaço, entre enormes e numerosos blocos de granito. A Sul, a margem amansada, trabalhada por homens, onde vinhas, amendoeiras e oliveiras foram plantadas em escarpas onde o homem desafiou as forças de atrito, conhecendo e explorando alguns limites da física através de empirismos.Olhando de baixo para cima, aqui tão perto, sinto-me pequeno. Pequenez exercida pela imponência destas 2 margens. Lentamente, por este rio acima… recordo a musica do Fausto, e ainda na sombra das margens reparo num maciço rochoso a inscrição de umas frases num português medieval. Aproximo-me e leio que no sec. VIII, por ordem de D.Maria, naquele local foi demolido o grande Cachão da Valeira. O maior e mais temido obstáculo na navegação do rio douro. Sendo assim possível a navegação em todo o douro em território nacional, fazendo com que implantassem mais instalações vitivinícolas nesta região alargando assim a região do douro vinhateiro, porque afinal o vinho… o do Porto só tem mesmo o nome, os túneis e barris cheios do precioso liquido, eram transportados rio abaixo até à cidade invicta.

Os outros barcos, os grandes... esses passam numa correria rio acima, rio abaixo.

23 agosto, 2007

Voadores

Ontem tive o privilégio de ver Ola Kala no Centro Cultural de Belem.
É um espectaculo dos franceses Les Arts Sauts, que apresentam entre outras coisas, a mágica elegância de movimentos aéreos numa perfeita simbiose entre os trapezistas e a pequena orquesta (de cordas) acompanhados por uma vocalista de voz divinal.
Aconselho vivamente.
está no CCB até 26Agosto.