09 novembro, 2006

2º fim de semana - 2ª fuga

Domingo, 22 de Outubro de 2006
Em pouco tempo, tive o privilégio de conhecer 2 zonas muito bonitas que ficam nos “arredores” de Luanda, uma a sul, que abrange o Miradouro da Lua, Praia de Sangano e Cabo Ledo, que vos falei no post anterior, onde predominam imbundeiros, e cactos aloé vera que mais parecem arvores com mais de 3 metros de altura, a outra zona de eleição fica acerca de 100km, mas desta vez para norte de Luanda, e chama-se Barra do Dande, sendo que, uns bons kms antes encontra-se outro tipo de vegetação, ali predominam as palmeiras e também alguns imbundeiros, como podem ver nas fotos.
O "guia" foi o Freitas, amigo do meu pai. Devo dizer que já não via o Freitas há mais de 15 anos, ou seja, após de 7 mil voltas que o mundo deu sobre si mesmo, e acerca de 7 mil km de distância, deu-se o reencontro. O Freitas é Angolano, regressou a Angola há coisa de 7 anos, e neste fim de semana teve a amabilidade de mostrar-me a zona da Barra do Dande.
Uma hora depois de sairmos de Luanda, começámos a entrar num campo minado de palmeiras, kms e mais kms de palmeiras até à barra do dande. Por fim, chegámos à Barra do Dande. É uma pacata aldeia, sobretudo piscatória, que fica na foz do rio dande, entrámos na rua principal, que tem umas quantas barracas-restaurante em toda a sua extensão, e paramos no última, onde o Freitas encomendou o almoço, lagosta e peixe grelhado, mas ainda não se sabia qual, uma vez que o peixe estava a chegar num dos barcos que avistámos depois, no morro que fica por cima da aldeia. Morro esse, de onde consegui “caçar” uma águia, cuja foto não faz jus à sua beleza. Morro esse de onde avistei a aldeia com sua nova e importante construção, a ponte, a nova ponte que liga directamente a aldeia à praia da Barra do Dande. O Freitas contou-me que colaborou na demolição da ponte antiga, com o objectivo estratégico-militar para evitar que a UNITA avançasse por ali para a capital, daí também a razão da estrada que liga este pequeno paraíso a Luanda estar bem conservada, aliás, reparei que as estradas a norte e sul de Luanda estão minimamente conservadas e isso tinha precisamente a ver com o estabelecimento de um perímetro de segurança do MPLA sobre a capital, com alguns kms que eram constantemente patrulhados, mas é claro que a guerra civil já acabou, no entanto estava na hora de fazer um feroz ataque às lagostas e o recém-chegado cherne, que apesar de grelhado não ficou “seco” e tão bem que estava acompanhado por o funge de mandioca, batata doce e banana assada, e folha de mandioca cozida e ralada, no final desta delicia, pagamos metade do valor de uma refeição em Luanda, naquele restaurante de terra batida com apenas 2 funcionárias (mãe e filha) 4 facas para amanhar o peixe e marisco 1 grelhador 3 alguidares, organizados, 1 para o peixe e marisco, outro com água, e o 3º para os restos não desejáveis. Simples, não? É nestes pequenos momentos mais simples, que nos sentimos mais próximos da natureza. Gosto desta africa, mas não romantizem, ali na Barra do Dande, não há rede eléctrica, agua ou esgotos canalizados nem cobertura de telemóveis.
Voltando um pouco atrás, a guerra já acabou, mas ainda assim tive que baixar a máquina fotográfica quando passávamos por edificações militares. Podem prender-te por isso, disse o Freitas. E assim perdi boas fotos, como a de um homem que estava com o braço esticado na estrada (perto de um quartel), e não, não estava a pedir boleia, mas sim a segurar uma perna de veado (para venda), ainda por esfolar, isto passou-se a caminho do Caxito (um pouco mais para o interior) onde passamos pelo famoso “jacaré bangão” (acho que é assim que se escreve) está relacionado com o tempo do colonialismo, em que em certa altura foi criado o boato, que até o jacaré do rio dande pagava imposto (foi a versão que me contaram).
Já são 17h00, o sol começa a anunciar a sua saída do palco, e na paragem seguinte paramos perto do cruzamento Luanda-barra do dande-caxito, onde aproveitei para tirar a minha melhor foto de imbundeiros até à data, foto esta que um dia ainda há de servir de publicidade ao banco BIC, cujo logotipo é um imbundeiro. Entramos no carro e voltamos para Luanda, onde chegamos já de noite, e com a escuridão na noite, cresceu também a minha ansiedade para viajar na manhã seguinte para o Huambo.

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