05 novembro, 2006

Domingo, dia Santo!?!?!?

Luanda, 15 de Outubro de 2006 +/- 28ºC
Acordo, são 8 horas da manhã, é domingo o que representa a seguinte dificuldade, o que fazer? Está combinada uma saída à praia, mas vai tardar um pouco. Posto isto, tomo o religioso banho matinal, o pequeno almoço, e ajeito a máquina fotográfica para o passeio, mas o tempo passa devagar... ainda não são 9horas, e eu
enclausurado em casa. Para ajudar a festa sucede o indesejável, uma falha de electricidade... ainda sem o gerador instalado, penso, Sem ar condicionado vai ser ainda mais difícil manter-me em casa, fico como um leão impaciente às voltas dentro da jaula, (embora esta jaula tenha o efeito oposto) e é quando decido descer e dar um curto passeio pedonal no bairro.
É diferente passear sozinho nas ruas de Luanda, sinto agora que sou o “tipo de cor” e é um pouco constrangedor, mas ao avançar e depois de receber meia dúzia dos sempre simpáticos “bom dia vizinho” ganho animo. Sem querer abusar (andar sozinho na
rua) volto a casa e recebo o telefonema para ir à praia, nomeadamente à praia de sangano, que fica acerca de 120km a sul da capital.
Saímos de Luanda por volta das 11h00, rumo a sangano, com cerca de 120km para percorrer aproveito a hora e meia de caminho para observar e tirar algumas fotos da envolvente. Para sair de Luanda, tem que se passar nos musseques, ou seja, um género de miséria em estado concentrado, o que nunca é bom de ser ver.
Passámos pelo Morro do Veado, que tem uns imbondeiros (arvores com o troco muito largo, vejam na foto) que no por do sol fazem com que este se assemelhe com a silhueta da cabeça do animal que lhe dá o nome. Segue-se a famosa ilha do mussulo e a ponte sobre o rio kwanza (foto) (rio que dá nome às notas angolanas). Nas margens do rio kuanza, passou-se um episódio engraçado. Falava-se com um "ancião" da aldeia, quando lhe perguntámos se podíamos tomar banho no rio sem ter problemas com os crocodilos, que estavam na outra margem, ao que ele respondeu, Aqui pode tomar banho, deste lado aqui não tem qualquer problema, o crocodilo não passa para cá, Mas como é que não passa para cá? Crocodilo não passa para cá! é lei do colono, respondeu. Percebi depois, que a lei do colono é baseada na lei das correntes do rio, ainda assim, lembrando o principio da incerteza de Heisenberg, o melhor foi mesmo não arriscar. Finalmente chegámos à praia de sangano, água com 20 e poucos graus, mas tinha um pouco de corrente. Depois de secos, fomos tratar de alimentar a carcaça. Almoçámos no restaurante da praia. Para entrada atracaram na mesa uns carangueijos do tamanho das sapateiras (em Portugal), que tão bem que sabiam a mar, depois vieram as lagostas grelhadas, e por fim o melhor choco grelhado que comi até hoje, tudo isto acompanhado pela famosa Cuca (cerveja) que é feita com milho ao invés da tradicional cevada, que lhe confere um sabor menos amargo e é mais leve no estômago, dizem eles que “faz menos barriga” mas olhando para eles... não me parece. O restaurante fica mesmo ao lado de uma pacata aldeia de pescadores, que juntos enfrentam a fúria do mar, mas também desfrutam da sua beleza e riqueza (peixes e mariscos) que os pescadores trocam por outros bens (pão, leite, carnes...) com o restaurante. Ali naquela aldeia não vi riqueza material, mas há paz e na simplicidade de outro mundo, as crianças parecem ser felizes.
Na volta para Luanda, parámos no Miradouro da Lua, onde se notam-se bem os efeitos da erosão. Dizem que em tempos o mar estava mais avançado e terá sido a causa deste efeito, também me contaram neste miradouro há muitas cobras, eu cá não as vi, mas devem andar algures por lá. E assim se passou uma bela tarde de domingo.



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