Nesta época do Ano, faz sentir-se muito bem a Estação das Chuvas aqui no Huambo. Desde cá estou, que todos os dias, assisto a chuvadas e trovoadas INTENSAS. Aliás Estação das Chuvas, é um livro que li na viagem Lisboa-Luanda, cujo escritor é o José Eduardo Agualusa, natural do Huambo e faz anos no mesmo dia que eu. eh eh, Coincidências.
Começo com ...
Tempestade no Huambo
Chovem lágrimas,
No furor de lavar a terra,
há muito manchada de pecados,
dos tiranos que assombram os mais fracos,
antes, durante, e após guerra.
Trovejam,
bombardeamentos colossais.
Depois da luz, o estrondo no ar,
que vem atemorizar,
a cobiça dos chacais.
Bom...
Primeira Impressão: Huambo parece ser uma cidade simpática e formosa, apesar de ter sido muito mal tratada durante a guerra civil.
Até podia parecer que passaram por cá aqueles românticos do sec 18, como os que em Sintra chegaram a construir novo para depois ordenar a sua destruição parcial, ficando com aspecto de ruínas, não fosse aqui o facto de a história ser muito diferente.
Para os que não conhecem, e para ficarem com uma pequena ideia, aqui vão números, Huambo situa-se a cerca de mil e poucos metros de altitude, é uma cidade com cerca de 800 mil habitantes (contando arredores), tem cerca de 400 prédios e 2400 vivendas. Foi fundada em 1912, portanto é uma cidade recente. Nota-se basicamente 2 tipos de arquitectura, aquela arquitectura do sec. XVIII / XIX, e a dos anos 60, mas que não se vê em Portugal, sobretudo nas vivendas, poder-se-á dizer que é arquitectura angolana dos anos 60, da qual confesso que estou apaixonado. Huambo é também caracterizado também pelas suas longas e largas avenidas, e tinha uma importante e desenvolvida zona industrial, com boas ligações viárias e ferroviárias às províncias adjacentes (anos 60/70).
Já passaram umas semanas, e não me recordo de ver uma avenida ou rua sem árvores, das 2400 vivendas penso que quase todas deverão ter arvores com o abacateiro, palmeira, mangueira, entre outras. Tem ainda uma série de jardins públicos, e portanto, resumindo, é a cidade com mais espaço verde por metro quadrado que conheço. Pelo que vejo, e pelo que me contam as pessoas de cá, há 30 anos devia ter sido das melhores cidades de Africa e arredores para se viver. Tinha uma estufa fria, jardim zoológico, instalações culturais e desportivas, bairro académico de grandes dimensões, zona industrial em franco desenvolvimento, boas estradas e aeroporto com hotel.
Começo com ...
Tempestade no Huambo
Chovem lágrimas,
No furor de lavar a terra,
há muito manchada de pecados,
dos tiranos que assombram os mais fracos,
antes, durante, e após guerra.
Trovejam,
bombardeamentos colossais.
Depois da luz, o estrondo no ar,
que vem atemorizar,
a cobiça dos chacais.
Bom...
Primeira Impressão: Huambo parece ser uma cidade simpática e formosa, apesar de ter sido muito mal tratada durante a guerra civil.
Até podia parecer que passaram por cá aqueles românticos do sec 18, como os que em Sintra chegaram a construir novo para depois ordenar a sua destruição parcial, ficando com aspecto de ruínas, não fosse aqui o facto de a história ser muito diferente.
Para os que não conhecem, e para ficarem com uma pequena ideia, aqui vão números, Huambo situa-se a cerca de mil e poucos metros de altitude, é uma cidade com cerca de 800 mil habitantes (contando arredores), tem cerca de 400 prédios e 2400 vivendas. Foi fundada em 1912, portanto é uma cidade recente. Nota-se basicamente 2 tipos de arquitectura, aquela arquitectura do sec. XVIII / XIX, e a dos anos 60, mas que não se vê em Portugal, sobretudo nas vivendas, poder-se-á dizer que é arquitectura angolana dos anos 60, da qual confesso que estou apaixonado. Huambo é também caracterizado também pelas suas longas e largas avenidas, e tinha uma importante e desenvolvida zona industrial, com boas ligações viárias e ferroviárias às províncias adjacentes (anos 60/70).
Já passaram umas semanas, e não me recordo de ver uma avenida ou rua sem árvores, das 2400 vivendas penso que quase todas deverão ter arvores com o abacateiro, palmeira, mangueira, entre outras. Tem ainda uma série de jardins públicos, e portanto, resumindo, é a cidade com mais espaço verde por metro quadrado que conheço. Pelo que vejo, e pelo que me contam as pessoas de cá, há 30 anos devia ter sido das melhores cidades de Africa e arredores para se viver. Tinha uma estufa fria, jardim zoológico, instalações culturais e desportivas, bairro académico de grandes dimensões, zona industrial em franco desenvolvimento, boas estradas e aeroporto com hotel.
Para além da bonita arquitectura, organização urbanística, e espaços verdes, permitam-me que fale de outra maravilha desta terra, são os heróis da guerra e da paz, falo dos meninos do Huambo.
Os meninos do Huambo são especiais, feitos de uma dureza superior... eu atribuo-lhes a dureza 11. Lembro que a escala de Mohs atribui a dureza máxima ao diamante. Denominado Diamante dureza 10.
Os meninos do Huambo são especiais, feitos de uma dureza superior... eu atribuo-lhes a dureza 11. Lembro que a escala de Mohs atribui a dureza máxima ao diamante. Denominado Diamante dureza 10.
Números deste ano, apontam para cerca de 2.300 órfãos de combatentes no Huambo. Alguns destes meninos, frequentam a zona do restaurante onde costumo tomar as minhas refeições, e ao sair ou entrar no carro, e quase todos os dias sou confrontado com os “Amigo, Ajudaa”. Torna-se difícil decidir, até porque fico sempre na duvida se não estarei a contribuir para um vicio, ao criar ali um pedinte, mas por vezes na via da duvidas lá vão saindo umas dezenas de kwanzas que caem como gotas de água, no deserto das mãos desses heróis, (se bem que lhes falta muito mais coisas para além do dinheiro).
Um desses meninos já é meu Herói, chama-se Sérgio, tem 11 anos, e é deficiente. Fui surpreendido pelo Sérgio, quando um destes dias estava a sair do restaurante, e ao chegar ao carro sou abordado por ele, Amigo dá só uma ajuda, Então não pode ser sempre... respondi, e ele olhou para mim, com um olhar vivo e de sorriso wassanjuka, (*) e apenas disse,Tá.
Entrei no carro, e pensei, Estes miúdos são feitos de uma matéria incrível... os pés nem conhecem sequer chinelos, passam fome, maus tratos, chuva que lhes cai em cima todos os dias e que seca na roupa e no corpo, doenças, ninguém lhes dá afecto, e no momento da expectativa de juntar umas kwanzas, sofrem mais uma nega, e por cima disto tudo, sorriem, num dos sorrisos mais puros que ja vi até hoje. Agora paro para pensar, que por vezes ficamos chateados e aborrecidos e lamentamo-nos durante demasiado tempo.
Tudo isto pode até parecer trivial, e talvez nem fosse necessário vir a Africa para entender isto, mas o facto é que gente feita deste material de dureza 11 são mais raros do que diamantes. Dou-me por feliz por ter conhecido o Sérgio, e duvido que ele tenha sequer a noção, do valor daquele sorriso que marcou a minha vida.
Um desses meninos já é meu Herói, chama-se Sérgio, tem 11 anos, e é deficiente. Fui surpreendido pelo Sérgio, quando um destes dias estava a sair do restaurante, e ao chegar ao carro sou abordado por ele, Amigo dá só uma ajuda, Então não pode ser sempre... respondi, e ele olhou para mim, com um olhar vivo e de sorriso wassanjuka, (*) e apenas disse,Tá.
Entrei no carro, e pensei, Estes miúdos são feitos de uma matéria incrível... os pés nem conhecem sequer chinelos, passam fome, maus tratos, chuva que lhes cai em cima todos os dias e que seca na roupa e no corpo, doenças, ninguém lhes dá afecto, e no momento da expectativa de juntar umas kwanzas, sofrem mais uma nega, e por cima disto tudo, sorriem, num dos sorrisos mais puros que ja vi até hoje. Agora paro para pensar, que por vezes ficamos chateados e aborrecidos e lamentamo-nos durante demasiado tempo.
Tudo isto pode até parecer trivial, e talvez nem fosse necessário vir a Africa para entender isto, mas o facto é que gente feita deste material de dureza 11 são mais raros do que diamantes. Dou-me por feliz por ter conhecido o Sérgio, e duvido que ele tenha sequer a noção, do valor daquele sorriso que marcou a minha vida.
( (*) - wassanjuka significa Muito Feliz em Umbundo )
Como diz a canção do Paulo de Carvalho,
Como diz a canção do Paulo de Carvalho,
Com os sorrisos mais lindos do planalto
Fazem continhas engraçadas de somar
Somam beijos com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar.
Antes de fechar este post, não quero deixar de relatar uma situação “engraçada”. Um destes dias, estava eu e o fiscal a sairmos do restaurante, quando um pedinte já com alguma idade, nos interceptou a pedir uma ajuda em kwanzas, o fiscal respondeu numa expressão tipicamente Angolana, Sófrimeeeentoooo... ...(significa: nós também estamos a sofrer), não demorou a resposta do pedinte, Vocês que comem bem, sabem o que é sófrimento???!!!?!?!. Claro que o fiscal limitou-se a rir, completamente desarmado de qualquer resposta.
As fotos... já sabem, vão demorar uns dias.
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