03 dezembro, 2007

As cores do Outono

num fim de semana de outono...
Carruagem 21, lugar 86 do comboio Intercidades
Viagem: entroncamento - covilhã
Proximidades de Belver

Levo o jornal, um livro, leitor mp3.
A leitura do jornal torna-se interessante, o livro que vai na mala é uma porta para outros mundos, e o leitor mp3 que vai no bolso é um veiculo que me pode levar a outras viagens.
Faço um esforço para manter os olhos concentrados nas letras e imagens do jornal, mas é inevitável, a paisagem é demasiado bonita para ser ignorada.
Dois anos no alto Alentejo permitiram-me conhecer alguns locais como a praia do Alamal, Belver, e as portas de Rodão, entre outros menos conhecidos, mas agora dentro desta lagarta de ferro que vai serpenteando as margens do rio, ora na margem esquerda, ora na margem direita, os meus olhos ficam pasmados com a beleza que encontram em cada recanto inexplorado, vejo pequenas albufeiras que entram pelos vincos ou dobras dos montes em mescla de verde e cinza, que vistos ao longe parecem mantos, lençóis estendido a beira do rio.
Algumas dessas albufeiras têm pequenas ilhas, povoadas de freixos, choupos e amieiros que tentam passar despercebidos na sombra, mas as suas cores outonais são denunciadas pela luz cintilante e intermitente que é reflectida pelas águas deste rio.
Nisto passa por mim uma criança que é maquinista de um outro tipo de composição, atrás dela a mãe que por sua vez dá a mão ao ultimo vagão humano, que aparenta ser tia da pequena e jovem locomotiva. O ultimo vagão desta composição humana, é invisual ou cega, como preferirem, no fundo em linguagem de criança, não consegue ver. Não consegue ver tudo aquilo que eu estava aqui há pouco a relatar, e as tantas dou por mim a olhar pela janela do comboio espreitando a tal paisagem e pensar nessa sensação.
Passados uns segundos, entramos todos num túnel e tudo ficou escuro, e eu sorri...