20 dezembro, 2006

Do Planalto Central ao Litoral Centro – Rumo a Benguela





Huambo, 15 de Dezembro de 2006
Após preencher completamente os lugares de trás da pick-up, com as nossas malas e mochilas, de resolver alguns assuntos pendentes e comprar alguns salgados e água para o caminho, eu e o Manuel, partimos do Huambo pelas 12h00, na esperança de chegar a Benguela por volta da 18h00.

Estamos a sair do Huambo...
Reparo que o céu tem algumas nuvens brancas e cinzentas, mas não está a chover, o que é bom para o atrito entre os pneus e os “pavimentos”. Pela frente, temos cerca de 380km km de caminho e surpresas. Como disse ao Manuel (fiscal) no final da viagem, no meio alguns de azares, tivemos sempre sorte.
O Manuel ainda nem tinha tomado o pequeno almoço, e então sugeri a troca que fizemos à saída do Huambo, ficou ele o pendura, e eu o condutor. Ele com uma mão na garrafa de água e outra no folhado, e eu com uma mão no volante e outra na máquina fotográfica, mas ambos com os olhos presos na magnifica paisagem que se desvendava em todas as direcções.
Estamos a passar no chão onde já existiu estrada “alcatroada”, calculada para suportar pneus e não lagartas de carros de combate, e o resultado é... dos trezentos e tantos quilómetros que percorremos, certamente percorremos 10% de estrada “alcatroada” aceitável, 20% de caminho em terra em boas condições, e dos restantes 70% de “estrada” “minada” de buracos, 20% está em mau estado que nos obrigava a andar com a pickup em velocidades entre os 5 e 30km/h.
Tirando um camião novinho que estava atolado, e quase deitado de cansaço na berma da estrada, entre Huambo e Alto Wama (cerca de 80km) a viagem decorreu sem grandes acontecimentos, embora, tivéssemos percorrido este troço do nosso longo trajecto, em um pouco mais de 2 horas.
No Alto do Wama, com algumas duvidas sobre a direcção a tomar rumo a Benguela, perguntamos a um rapaz que estava perto da estrada, junto ao portão do hospital, se era aquela a estrada que nos levaria a Benguela, juntamente com a resposta confirmativa, veio um pedido, esticou-nos o braço com um envelope na mão a pedir para entregar-mos aquela carta na unidade da policia do Londuimbali, próxima cidade a 30.000 metros e buracos dali. Foram os 30km mais longos da minha vida, qual mar do norte, qual quê, aquele “mar” estava mesmo muito bravo. Disse 30.000 buracos?!, pois... alem de muitas vezes ter que escolher qual o melhor buraco para passarmos, nas zonas onde havia alternativas, passava com a pickup sobre as bermas, e fui numa dessas passagens que o Manuel me sensibilizou, Engenheiro, não se aproxime muito das bermas por que estamos a passar uma zona com minas. Acreditem que fiquei muito sensibilizado para esta questão em particular. No total da viagem contei mais de 20 camiões atolados, avariados, mas houve um que me chamou particular atenção, vejam na foto.
Passados os 30km, chegamos ao Lunduimbali, localidade onde travamos o único momento simpático com a policia, pois mal chegámos ao portão, os policias que ali estavam foram chamar o chefe, que veio prontamente atender-nos para receber o envelope. Pouco habituados, fomos depois presenteados com um, Obrigado, e tenham boa viagem.
Pensei... Na sua inocência, irónicas palavras haveis proferido , senhor chefe de unidade... Fosse eu bruxo, para adivinhar um futuro próximo, e teria convocado aquele corpo de policias simpáticos e prestáveis, para nos auxiliarem e acudirem pelo resto da viagem.
Já tinham passado 4 horas, e nem sequer tínhamos saído da província do Huambo, depois de deixarmos Lunduimbali e passados mais alguns milhares de buracos, chegamos à ultima povoação antes de entrar na província de Benguela, de sua “graça” Ussoque. Graça foi a única coisa que não achamos do cenário que tínhamos pela frente, já que depois de pararmos numa fila, e saindo da pickup, apercebemo-nos que na saída e entrada desta localidade, estariam sem qualquer duvida mais de 50 veículos parados... ZeroKilometrosHora.
Causa: Casamento entre uma estrada de terra com uma longa e íngreme subida, e a Chuva, sofrendo infidelidades como por exemplo, o excesso de carga e/ou falta de manutenção de alguns camiões.
Efeito: mais de meia centena de veículos parados, devido à ganância ou curiosidade estúpida de chegar o camião mais à frente, fora de mão para ver o que se passa.
Numa genica determinada mas não planeada, via-se uns a passarem de um lado para o outro com cabos de aço para rebocar o camião avariado, e outros que entravam para os respectivos camiões para fazerem manobras sem efeitos positivos. Apercebendo melhor do que se passava ali, e vendo a policia de braços cruzados, talvez por acharem que da resolução daquele problema, não resultariam uns milhares de incentivos ribeirinhos nacionais (deverá ler-se... rio kwanza) para tornar o natal mais fraterno, eu e o Manuel, auto proclamamo-nos policias de trânsito. Alguém tinha que o fazer.
Convencer os condutores que teriam que esperar que todos os fora de mão viessem atrás do camião avariado, até desimpedirem faixa alheia, não foi nada fácil, e no meio daquela confusão, a fila onde estávamos parados, avançou um bom bocado. Por sorte chegamos a uma zona curta, onde foi possível improvisar uma terceira faixa, para ligeiros com tracção às 4 rodas motorizes. Ao improvisarmos existia o risco de ficarmos atolados existia, mas com alguma engenharia e com muita vontade de sair dali, pedimos ajuda a outros condutores para colocarem-se umas pedras no desvio improvisado, às tantas comecei a rir-me de toda esta situação... primeiro, “armados” em policias de transito, e depois em construtores romanos. Pena não ter uma tirado foto, pois o resultado desta curta empreitada, foi um lindo tapete de pedra sobre lama, sobre o qual, vaidosamente passámos. Ali, quem inaugurou a obra, fomos nós... depois de termos sido engenheiros, encarregados e serventes em própria causa. Não somos como alguns que fazem inaugurações colocando seus nomes nessas obras, em que apenas decidem ordenar: Então Faça-se!!! Ficando no final com o protagonismo das ideias e trabalho de outros.
Ali, não houve champanhe e/ou fitas cortadas por tesouras, mas tivemos direito a umas buzinadelas e apoios, Foorça aí, disseram-nos, e dali para a frente bem iríamos precisar dela. Dela, e de mais algumas coisas.
Durante alguma euforia, lembrei-me de olhar para o relógio e reparar que tinhamos passado 1 hora e alguns minutos, no Ussoque, a fazer de policias e de construtores.
Uns quilómetros à frente, encontramos um carro ligeiro parado com problemas em passar numa zona de lama, e ainda que sozinho, estava a bloquear o caminho. Seriamente convencidos que éramos construtores romanos, voltamos a repetir a proeza, desta vez mais rápido, estávamos a ficar profissionais, não tardaria e teríamos uma estrada romana em Angola.
Ainda estávamos a congratularmo-nos com os nossos feitos, quando nos deparámos com outra situação parecida com a do Ussoque, mas desta vez, fora de qualquer localidade, mas com a maré de azar sortudo em que estávamos, um senhor camionista aconselhou-nos a passarmos por um desvio, era uma picada que contornava aquele ajuntamento de camiões parados nos dois lados da via. Agora, sem trabalho e engenho, deixamos este 3º obstáculo para trás.
Reparei que o sol já estava a despedir-se, e ainda fui a tempo de aproveitar para tirar algumas fotos da paisagem que nos rodeava, como por exemplo do Morro Moco, ponto mais alto de Angola, com 2600 metros de altitude. Estávamos a entrar na província de Benguela, e ainda nem estávamos a meio do percurso.
Mais à frente, estavam 2 tipos a colocar pedras na estrada numa passagem com alguma lama, colegas... construtores romanos, mas estes estavam ali para cobrar portagem, quando reparei na jogada, passei pelo meio, já que a lama era pouca. Depois de passar ouvi de um deles, uns gritos de insucesso, Branco, Ó Pula...
Já era de noite quando entramos no Balombo, 1ª localicade da província de Benguela, no sentido Huambo-Benguela.
Embora já fosse de noite, esporadicamente vimos pessoas a caminhar nas bermas, a ir ou a vir de alguma localidade, agora a preocupação já não eram só as minas, mas também evitar de atropelar alguém na berma.
Com a noite muito escura, aumentam todas as dificuldades em resolver avarias, e também a dificuldade em conduzir, torna-se mais difícil escolher os melhores buracos para passar, por que com a noite é mais complicado avaliar as profundidade, e os limites do caminho (não se pode chamar de estrada).
Para agravar, já estava um pouco fatigado do conduzir na travessia dos cerca de 200km de buracos percorridos, e foi quando pensei em trocar o volante com o Manuel, na próxima localidade, Bocoio, mas... sensivelmente a meio, entre o Balombo e Bocoio, numa recta “alcatroada”, já ia à velocidade de cruzeiro de 70km/h, com os médios (máximos avariados) quando vejo um vulto e desvio o carro para a berma, mal reparei que ia atropelando uma pessoa que estava a cambalear no meio da estrada, mas depois apercebi-me que era um policia, quando logo a seguir vi outro com a mão esticada e outra na AK47, a ordenar paragem, isto ao mesmo tempo que o Manuel dizia-me um pouco surpreendido e assustado (tal como eu), Pare, engenheiro, é melhor parar, pare, pare.
Assim fiz, parei o carro próximo do 2º agente. O quase atropelado aproximou-se, ficando um de cada lado do carro. Á medida que baixamos os vidros, rapidamente reparámos que não eram policias de transito, e mal abriram a boca constatámos que estavam perdidos de bêbados, de tal forma que nem eu percebia o que o “mais velho” que estava do meu lado, estava a dizer-me. Nessa altura comecei a ficar mais preocupado. Neste País, dois jovens no meio do escuro, parados na berma com 2 policias bêbados e armados com metralhadoras, sem ninguém a passar pela estrada, rodeados por mato, é sem duvida um cenário pouco bonito.
O que eles queriam, era simples, apenas uma boleia para o mais novo ficar na próxima localidade, o Bocoio, que devia estar a 50km dali, mas aquelas metralhadoras e bebedeiras, estavam a preocupar-me seriamente. Apressamo-nos a explicar aos senhores agentes da autoridade imposta, que, os lugares atrás estavam ocupados com malas, mas o agente mais novo, disse não importar-se em ir na caixa aberta da pickup.
Subiu com a nossa indispensável ajuda, e depois de acomodarmos o senhor agente lá atrás, entramos no carro, subi os vidros, e disse ao Manuel, Não estou a gostar nada de levar um bêbado com uma arma na mão lá atrás, mas não temos outra hipótese, certo? Certo, foi a resposta. Manuel, vai controlando como ele vai lá atrás, até por que com a puta da bebedeira em que ele está, alem de poder fazer alguma asneira com a AK, pode cair do carro e isso também não será muito melhor. Manuel, concordou e levou o vidro dele em baixo, para ouvir e ir falando com o senhor agente – Patente = embriagado.
Confesso que me passaram muitas coisas pela cabeça naqueles 50km, uma delas foi que a diferença de cor pode passar a ser um problema, quando uma das cores está embriagada, mas este era o cenário mais pessimista, que rapidamente abandonei, o optimista era que o estado da bebedeira fosse tão elevado que nem com o gatilho ele conseguisse dar, mas depois surgia outro pessimista... o pior seria se ele estivesse com a patilha de segurança destravada, e desse com o gatilho inadvertidamente, ou quisesse intencionalmente desabafar uns tiros, que naqueles saltos que a carrinha dava, podiam ter vários destinos.
Finalmente “desci à terra” e pensei que aquilo que estávamos a fazer era sem duvida a melhor decisão, a mais sensata, e como não havia outras hipóteses, voltei a concentrar-me na escolha selectiva dos buracos, mas agora, de uma forma ainda mais cuidada, já que não convinha de todo deixar cair o senhor agente de Patente = alienado.
Após uma hora de aperto chegamos ao Bocoio, e ai , houve outra pequena dificuldade, que foi convencer o senhor agente fortemente alcoolizado, a descer da pickup. Estava à procura das chaves de casa, mas não estava a encontra-las. Já com mais alguma segurança, como estávamos dentro de uma localidade com iluminação e algumas pessoas a passar perto, dissemos-lhe que saísse e procurasse depois. Não foi fácil, e a nossa paciência escasseava cada vez mais.
Lá com paciência, ele acabou por sair da caixa da pickup, e na sua simpatia embriagada, enrolou na boca um, Obrigado e boa noite.
Como estava combinado, troquei de lugar com o Manuel nesta localidade.
A próxima paragem seria no Lobito. Ao sairmos de Bocoio notamos que já tínhamos estrada. O Manuel, como qualquer condutor, em melhores condições de piso, acelerou mais um pouco... até aos 80, 100km/h, a certa altura, cruzamo-nos com um camião que teimava em não sair do meio da estrada, o Manuel começou a encostar à berma, e, no momento em que passamos a 2 dedos do camião, vimos que estávamos no inicio de uma ponte muito estreita... e estreita ficou a nossa vida naqueles instantes, pois não houve tempo para reflexos nem orações, nem sequer quaisquer palavras pouco educadas para o camionista. Juro que foi a mão divina que nos salvou, Juro... 2 dedos de um lado e 3 do outro, não estou a exagerar. A nossa sorte foi o Manuel não ter tempo para reflexos, (virar para fora) por que senão seríamos jantar de crocodilo, ou acrotério em chapa e osso, daquela ponte.
Ainda estávamos a uns 50km quilómetros do Lobito, quando decidimos que iríamos dormir no Lobito, por que já eram cerca de 21h00 e na manhã seguinte iríamos para Benguela, mas desconhecíamos ainda, que haveria outra razão mais forte para dormirmos no Lobito.
Uns quilómetros mais à frente, agora com policia de transito, demasiado sóbrios para aplicar as suas próprias leis, somos ordenados a encostar e parar, então sucede-se o procedimento normal, pedem os documentos, e dão uma volta ao carro. Quando o senhor agente volta para perto do Manuel, diz-lhe, O stop está partido! Após a nossa justificação, diz ele, Não há problemas, levem só aqui o meu colega lá mais à frente, que ele está com os documentos, e é preciso fazer um registo da situação. Ok, mais uma vez, boleia imposta pela autoridade, mas agora sem arma, mas também sem os documentos.
Mais a frente paramos junto da unidade, onde o Manuel, e o senhor agente que simpaticamente nos acompanhou, entraram para o registo da ocorrência.
O registo demorou um pouco, e quando o Manuel estava a regressar ao carro, reparei na sua cara de poucos amigos. Quando entrou, disse-lhe, Ficaram-te com a carta!?!... e agora?, Agora temos que ir ao posto de controlo que fica à entrada do Lobito, esperar que estes senhores das motos, levem para lá a minha carta de condução.
Assim fizemos, mais uns quilómetros de estrada razoável, e chegamos ao posto de controlo do Lobito. Com lei improvisada in loco pelo proprio, o policia que estava nesse posto de controlo, quis ficar com as chaves da pickup, mas como é óbvio, não teve sorte connosco, mas já tinha com ele algumas.
Deviam ser 20h00... para resumir, devo dizer que com a nossa situação, e alguns pior e mais ridículas, estavam mais de 5 pessoas, um deles com crianças no carro. Passamos ali a noite à espera dos senhores das motos, que estrategicamente chegaram às 2h00 da manhã, para dizerem que tinham as cartas de todos aqueles condutores, e que era preciso de irmos todos, à unidade operativa do Lobito. De seguida, entrei para o carro com Manuel, e disse-lhe, Vamos embora, temos que procurar um hotel ou pensão para dormirmos por que já são 2h00, e a palhaçada está a ficar cansativa. Assim aconteceu, batemos à porta de 2 hoteis, e 1 pensão, que estava completa, e num dos outros hotéis não nos abriram a porta, portanto a escolha ficou automaticamente feita.
Tiramos as malas do carro, e colocamo-las nos quartos, e depois fomos à tal unidade operativa onde nos disseram, Voltem amanhã, pelas 7h00.
Parecia praxe... voltamos para o hotel, dormimos umas horas, e pelas 7h00, já estávamos a devorar um pequeno almoço, que após uma viagem de 300km de buracos, entre outras coisas, e tendo passado sem jantar na noite anterior, teve que ser reforçado, também por que adivinhávamos um principio de manhã, com algumas dificuldades.
Pelas 7h30 já estávamos na unidade operativa do Lobito com os nossos camaradas da noite passada, aqueles “criminosos” que tal como nós tinham luzes de stop fundidas, piscas, etc.
Conversa para cá e para lá, com o Pai das crianças que tiveram que dormir a noite no carro, ficamos a conhecer as suas sérias intenções em dar uma “gasosa natalícia” a um dos senhores agentes para libertarem a sua carta de condução.
Estávamos com intenções de pagar a multa, mas apercebemo-nos rapidamente da única solução, quando veio ter connosco um outro senhor agente que, vendo no grupo de 5 pessoas, uma de cor, Eu, dirigiu-se directamente para mim de olhos a brilhar, e sorridente, perguntou, Qual é o assunto, Não é comigo é com estes senhores, Mas você está com eles, Não interessa, a questão é com eles, insisti. Quase que se poderia chamar de racismo refinado, a esta intervenção policial. Primeiramente e antes de chegar perto de mim, o senhor agente dirigiu-se a todos de uma forma arrogante e prepotente, depois quando viu alguém de cor, ficou alegre e simpático, com boas perspectivas.
Para melhor eficácia do esquema montado, o senhor agente informou que o nosso problema só poderia ser resolvido na 2ª feira, e mesmo após o Manuel explicar-lhe que na 2ª já tínhamos voo marcado para Luanda, o policia perguntou, E o que é que eu posso fazer.
A esgrima continuo por alguns minutos, até que o Manuel ofereceu a prenda tão desejada, e em troca teve outra prenda... É o espírito natalício no seu melhor.
Problema resolvido. Depois demos uma volta rápida pelo Lobito, fomos à restinga (parecida com a ilha de Luanda, mas mais pequena e arrumada) e vimos o porto do Lobito, que goza da fama de ser um dos maiores portos da Africa Ocidental.
“Traumatizados” com a nossa recepção no Lobito, seguimos viagem para Benguela que fica a cerca de 30km em estrada relativamente boa. Passamos por catumbela, onde tirei uma foto dos característicos comboios Africanos.
Finalmente chegamos ao Destino, vivos como agora e sempre, de boa saúde e de cara alegre.

14 dezembro, 2006

Eclipse do Imbundeiro



Encostado a ti descansei
Em tua sombra, constatei
Muito tempo já passou,
Pouco ou nada te abalou

Aí permaneces, Imponente,
de braços teimosamente erguidos
cuja fruta gerou semente,
e pelo rebento, nos tornamos amigos

Tu, o rebento e eu, fomos formando
a santíssima trindade,
ele o filho, eu o espírito santo,
e tu, pai sem idade.




O rebento, afinal já é árvore,
e um dia terá o seu eclipse.

10 dezembro, 2006

Pico que Roças no Céu

Não, não é em Africa...
Tal como a 2ª foto do blog, esta bonita foto, foi gentilmente cedida pelo meu Amigo Insular.

Pico que roças no céu, é o mesmo que dá nome à ilha. Não fosse esse seu nome, seria eu que lhe colocaria um outro mais ajustado, Utopia. Com muito gosto, eu seria um Aleopolis.

08 dezembro, 2006

Comunismo, o Mito

Lidar diáriamente com os Chineses, também tem sido uma experiência positiva.
Para aqueles que ainda não sabem, Angola está a ser “invadida” por Chineses a todos os níveis, desde o empresário até ao candongueiro, (táxi colectivo... aqueles azuis, já sabem) a mim não me parece mal, embora se verifique alguns choques de culturas, não de cores. São diferenças... elas existem, mas em qualquer lado encontra-se a Razão, o sentimento daquilo que é universalmente correcto, e essa é a linguagem universal que não tem raça, cultura ou religião. É por ela que temos que nos entender.
É simples, se conseguirmos compreender e aceitar diferenças, sempre dentro daquilo que deverá ser a Razão com os seus limites por vezes muito ténues, estaremos a ser mais perfeitos.

No estaleiro onde trabalho, há cerca de 30 Chineses, todos eles com a farda da empresa. Sempre a toque de campainha, eles dormem, comem, e trabalham neste espaço, que é um estilo de condomínio muito fechado.
Com algum esforço, tenho conseguido falar em inglês com alguns e chinuguês com outros, para alem dos assuntos de trabalho, e até já consegui um feito memorável, após alguma persuasão diplomática, num dos estaleiros está e finalizar-se um humilde campo de basket, onde iremos realizar divertidas e disputadas partidas. Serão os jogos do campeonato UCA(*)
(*) - United Collors of Angola

Ontem, os Chineses convidaram-me para jantar, pensei um pouco no assunto e... aceitei.
Digo que foi hilariante. Primeiro quase que me obrigaram a escolher o prato, para todos pedirem igual, depois a bebida, e beberam todos o que eu escolhi, escolhi cerveja (o fiscal disse-me que eles até nem gostam muito de cerveja).

Para ajudar à festa, trouxeram saké para bebermos a meio da refeição. Aquele liquido corrosivo, foi engolido em vigorosos Cambéééé de 5 em 5 minutos, mas eu às tantas comecei a ver o rumo dos acontecimentos, e sabendo que a minha maquinaria não está habituada a este tipo de combustível, começei a brindar Cambéé com um copo com água (para o efeito)... eles mostravam cara de desconfiados e depois riam-se.
Eu pensava que os angolanos metiam muito gindungo (piripiri) na comida, até observar os chineses... os pratos deles mais pareciam caldeiradas de gindungo com outra coisa qualquer, e chegaram mesmo a barrar gindungo no pão, que depois comiam com a maior das naturalidades.

A beber saké e devorar gindungo daquela forma, acredito piamente que todos os dragões estejam na China. Durante o jantar, falamos sobre Angola, Portugal e China, e sobre a empresa deles... que só tem 200.000 trabalhadores.
No final, ofereceram-me uma garrafa de saké e um pacote de chá chinês, entenda-se, o veneno e o antídoto.
Também aprendi a dizer obrigado em chinês... Tche Tche.

Para terminar, e tocando de uma forma mais cirúrgica no assunto que é titulo deste post.
Comunismo é sem duvida uma boa idealogia, mas para ser colocado em prática tem um grave problema... O Homem com a sua ganância desmesurada.

Curioso... Reparem que o Homem só consegui praticar a politica perfeita, nas primeiras sociedades primitivas, em que os territórios eram ocupados por tribos, mas dentro deles, os recursos naturais necessários para a sobrevivência do grupo eram propriedade comum.

Mas depois veio a "evolução" e... vejam abaixo os resultados.

O diplomata norueguês Charung Gollar, foi incumbido de apresentar, na ONU, no mês passado, um gráfico mostrando os principais problemas que preocuparam o mundo no decorrer de 2005.. Apresentou uma série de oito gráficos, intitulada 'O Poder das Estrelas'...
Apresento duas dessas estrelas, que estou a conhecer.

É favor clicar sobre as bandeiras, para ver melhor as legendas.



05 dezembro, 2006

Maldita sejas, Anopheles

Aos mais assíduos nas consultas do meu ilustre blog, apresento desde já, o meu sincero e profundo pedido de desculpas, pela falta de post´s actualizados, nos últimos tempos.
Assim sendo, sinto-me no dever de comunicar-vos, que este desafortunado acontecimento, deve-se ao facto de me ver privado de fazer algumas coisas, consequência do apetite voraz da Anopheles.
O meu corpo conheceu Anopheles há umas semanas atrás. Após algum assédio, e como seria inevitável, ela entrou sem bater à porta, aproximou-se rapidamente, e atraída pelo odor coroporal,
colou-se a mim. Por escassos momentos, na troca de saliva e sangue fomos um só.
Na sua imensa graciosidade, alem de subtrair sangue, deixou-me como recordação, uma “prenda” tropical, inimigo dos glóbulos vermelhos, falo de, Plasmodium.

Por isto, e por todos aqueles que não resistem à "prenda", maldita sejas Anopheles.
Atenção: Anopheles é fêmea, mas não é mulher!!!

Ainda assim, aos mais perversos, recomendo que se informem sobre o modo como Anopheles deixa a “prenda”.

20 novembro, 2006

As Faces da Lua

Voltei ontem a Luanda, só por uns dias.
Sem grandes novidades, e com pouca inspiração deixo hoje uma pergunta:
Não é sobre cores, ou luz, mas... para os que já repararam, sabem o porque da lua mostrar-nos sempre a mesma face? Até vos fazia um desenho, mas desta vez não vou dar o peixe, procurem saber. Pista: rotação e translação (já é muita ajuda)
Será que a Lua, não nos quer mostrar a sua face negra???

15 novembro, 2006

Huambo, Paraíso em ruínas

Nesta época do Ano, faz sentir-se muito bem a Estação das Chuvas aqui no Huambo. Desde cá estou, que todos os dias, assisto a chuvadas e trovoadas INTENSAS. Aliás Estação das Chuvas, é um livro que li na viagem Lisboa-Luanda, cujo escritor é o José Eduardo Agualusa, natural do Huambo e faz anos no mesmo dia que eu. eh eh, Coincidências.

Começo com ...
Tempestade no Huambo

Chovem lágrimas,
No furor de lavar a terra,
há muito manchada de pecados,
dos tiranos que assombram os mais fracos,
antes, durante, e após guerra.

Trovejam,
bombardeamentos colossais.
Depois da luz, o estrondo no ar,
que vem atemorizar,
a cobiça dos chacais.

Bom...
Primeira Impressão: Huambo parece ser uma cidade simpática e formosa, apesar de ter sido muito mal tratada durante a guerra civil.
Até podia parecer que passaram por cá aqueles românticos do sec 18, como os que em Sintra chegaram a construir novo para depois ordenar a sua destruição parcial, ficando com aspecto de ruínas, não fosse aqui o facto de a história ser muito diferente.
Para os que não conhecem, e para ficarem com uma pequena ideia, aqui vão números, Huambo situa-se a cerca de mil e poucos metros de altitude, é uma cidade com cerca de 800 mil habitantes (contando arredores), tem cerca de 400 prédios e 2400 vivendas. Foi fundada em 1912, portanto é uma cidade recente. Nota-se basicamente 2 tipos de arquitectura, aquela arquitectura do sec. XVIII / XIX, e a dos anos 60, mas que não se vê em Portugal, sobretudo nas vivendas, poder-se-á dizer que é arquitectura angolana dos anos 60, da qual confesso que estou apaixonado. Huambo é também caracterizado também pelas suas longas e largas avenidas, e tinha uma importante e desenvolvida zona industrial, com boas ligações viárias e ferroviárias às províncias adjacentes (anos 60/70).
Já passaram umas semanas, e não me recordo de ver uma avenida ou rua sem árvores, das 2400 vivendas penso que quase todas deverão ter arvores com o abacateiro, palmeira, mangueira, entre outras. Tem ainda uma série de jardins públicos, e portanto, resumindo, é a cidade com mais espaço verde por metro quadrado que conheço. Pelo que vejo, e pelo que me contam as pessoas de cá, há 30 anos devia ter sido das melhores cidades de Africa e arredores para se viver. Tinha uma estufa fria, jardim zoológico, instalações culturais e desportivas, bairro académico de grandes dimensões, zona industrial em franco desenvolvimento, boas estradas e aeroporto com hotel.
Para além da bonita arquitectura, organização urbanística, e espaços verdes, permitam-me que fale de outra maravilha desta terra, são os heróis da guerra e da paz, falo dos meninos do Huambo.
Os meninos do Huambo são especiais, feitos de uma dureza superior... eu atribuo-lhes a dureza 11. Lembro que a escala de Mohs atribui a dureza máxima ao diamante. Denominado Diamante dureza 10.
Números deste ano, apontam para cerca de 2.300 órfãos de combatentes no Huambo. Alguns destes meninos, frequentam a zona do restaurante onde costumo tomar as minhas refeições, e ao sair ou entrar no carro, e quase todos os dias sou confrontado com os “Amigo, Ajudaa”. Torna-se difícil decidir, até porque fico sempre na duvida se não estarei a contribuir para um vicio, ao criar ali um pedinte, mas por vezes na via da duvidas lá vão saindo umas dezenas de kwanzas que caem como gotas de água, no deserto das mãos desses heróis, (se bem que lhes falta muito mais coisas para além do dinheiro).
Um desses meninos já é meu Herói, chama-se Sérgio, tem 11 anos, e é deficiente. Fui surpreendido pelo Sérgio, quando um destes dias estava a sair do restaurante, e ao chegar ao carro sou abordado por ele, Amigo dá só uma ajuda, Então não pode ser sempre... respondi, e ele olhou para mim, com um olhar vivo e de sorriso wassanjuka, (*) e apenas disse,Tá.
Entrei no carro, e pensei, Estes miúdos são feitos de uma matéria incrível... os pés nem conhecem sequer chinelos, passam fome, maus tratos, chuva que lhes cai em cima todos os dias e que seca na roupa e no corpo, doenças, ninguém lhes dá afecto, e no momento da expectativa de juntar umas kwanzas, sofrem mais uma nega, e por cima disto tudo, sorriem, num dos sorrisos mais puros que ja vi até hoje. Agora paro para pensar, que por vezes ficamos chateados e aborrecidos e lamentamo-nos durante demasiado tempo.
Tudo isto pode até parecer trivial, e talvez nem fosse necessário vir a Africa para entender isto, mas o facto é que gente feita deste material de dureza 11 são mais raros do que diamantes. Dou-me por feliz por ter conhecido o Sérgio, e duvido que ele tenha sequer a noção, do valor daquele sorriso que marcou a minha vida.
( (*) - wassanjuka significa Muito Feliz em Umbundo )
Como diz a canção do Paulo de Carvalho,

Com os sorrisos mais lindos do planalto
Fazem continhas engraçadas de somar
Somam beijos com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar.

Antes de fechar este post, não quero deixar de relatar uma situação “engraçada”. Um destes dias, estava eu e o fiscal a sairmos do restaurante, quando um pedinte já com alguma idade, nos interceptou a pedir uma ajuda em kwanzas, o fiscal respondeu numa expressão tipicamente Angolana, Sófrimeeeentoooo... ...(significa: nós também estamos a sofrer), não demorou a resposta do pedinte, Vocês que comem bem, sabem o que é sófrimento???!!!?!?!. Claro que o fiscal limitou-se a rir, completamente desarmado de qualquer resposta.
As fotos... já sabem, vão demorar uns dias.

09 novembro, 2006

Rumo ao Huambo

2ª feira, 23 de Outubro de 2006

Acordo cedo, hoje é dia de viajar. Vou sair de Luanda, rumo ao Huambo, e é tempo de fazer um ponto de situação sobre estas 2 semanas na Capital. Foram 2 semanas do 1º contacto com Africa, no pior e no melhor, embora como já disse em post anterior, eu não vinha com uma ideia romantizada desta Africa, mas agora lembro-me do meu deslumbramento quando via filmes passados neste continente, ou quando via as fotos de Angola no álbum de família, e contavam-me do característico cheiro da terra.
09h30, estou no aeroporto para comprar o bilhete para me juntar aos “meninos à volta da fogueira” do Paulo de Carvalho. Check in e voo, suposta e respectivamente às 10h00 e 11h00, na realidade check in às 10h30, onde me pesaram a mala... e tooiiiim... 25kg, 5kg a mais do que o permitido nos voos domésticos, e ainda com uma mochila às costas e mala do pc na mão, perguntei à Senhora do check in, que estava com a cara trancada (como dizem aqui) se podia levá-las como bagagem de mão, dado que o avião é pequeno (senti que estava a esticar um pouco a corda), mas para meu alívio, a Senhora olhou para mim, franziu a testa, pensativa, e disse... Pode seguir. Pois... é óbvio que nem todos os que andam com falta de gás, tentam sacar “gasosas”. Depois, entro na zona de embarque, onde fico aproximadamente 3 horas e aproveito para desbastar um livro que me emprestaram... Predadores, do Pepetela (escritor Angolano) cuja leitura recomendo. Pelas 14h00 embarco num embraer EM120 Brasília, cuja capacidade... não me recordo bem, mas acho não leva mais de 40 passageiros, portanto, é praticamente um machibombo com asas. Foi divertido, até porque gosto de aviões, e sentei-me logo num local estratégico, da janela via a hélice, e portanto, caso esta parasse, eu era o primeiro a gritar, olhando em frente, tinha a 4 metros a cabine, onde estavam as mãos do comandante, a tocar naquele colorido piano de instrumentação. Mal levantamos voo apressei-me tirar umas fotos sobre a zona envolvente do aeroporto, ou seja, os famosos musseques.
Voltei a passar sobre o rio Kwanza, mas desta vez a 6mil metros e a 500km/h, rumo a Bengela, onde faríamos escala para o Huambo, foi +/- 1 hora de viagem com uns momentos de agitação (turbulência) que achei divertido, porque eram nessas alturas em que os passageiros mais faladores perdiam o pio.
Acreditem (para os que não sabem) que sentir turbulência num avião pequeno é vibrante... literalmente vibrante, e devo dizer que a aterragem em Bengela foi igualmente vibrante, porque ao passarmos numas “pequenas” depressões da pista, aquele machibombo com asas, mais parecia um carro de rally. Houve um momento em que o avião se torceu um pouco, e nessa altura pensei que o piloto ia “sacar um peão”, mas não, controlou muito bem a máquina, Temos piloto, disse para mim. Depois do sagrado silêncio na aterragem, e de o avião parar, saíram alguns passageiros e entraram outros tantos para fazer a viagem, Bengela-Huambo. 10min depois, descolamos de Bengela para uma viagem de meia hora, e lá em cima ao dar-se meia volta sobre a cidade e arredores, aproveitei para tirar umas fotos. Bengela fica no litoral, sobre uma plataforma plana e árida junto ao oceano, voando poucos kms no vale para o interior começo a ver a terra cultivada, (foto) e o que se vê no meio horizontal da foto não é rio, mas sim ribeira, e está com aquela cor porque são areias.

Antes de aterrar no Huambo tive oportunidade para tirar mais umas fotos onde se começa a ver a predominância do verde, e o vermelho das estradas em terra batida.

Finalmente, cheguei à terra dos meninos à volta da fogueira, e estou optimista.

2º fim de semana - 2ª fuga

Domingo, 22 de Outubro de 2006
Em pouco tempo, tive o privilégio de conhecer 2 zonas muito bonitas que ficam nos “arredores” de Luanda, uma a sul, que abrange o Miradouro da Lua, Praia de Sangano e Cabo Ledo, que vos falei no post anterior, onde predominam imbundeiros, e cactos aloé vera que mais parecem arvores com mais de 3 metros de altura, a outra zona de eleição fica acerca de 100km, mas desta vez para norte de Luanda, e chama-se Barra do Dande, sendo que, uns bons kms antes encontra-se outro tipo de vegetação, ali predominam as palmeiras e também alguns imbundeiros, como podem ver nas fotos.
O "guia" foi o Freitas, amigo do meu pai. Devo dizer que já não via o Freitas há mais de 15 anos, ou seja, após de 7 mil voltas que o mundo deu sobre si mesmo, e acerca de 7 mil km de distância, deu-se o reencontro. O Freitas é Angolano, regressou a Angola há coisa de 7 anos, e neste fim de semana teve a amabilidade de mostrar-me a zona da Barra do Dande.
Uma hora depois de sairmos de Luanda, começámos a entrar num campo minado de palmeiras, kms e mais kms de palmeiras até à barra do dande. Por fim, chegámos à Barra do Dande. É uma pacata aldeia, sobretudo piscatória, que fica na foz do rio dande, entrámos na rua principal, que tem umas quantas barracas-restaurante em toda a sua extensão, e paramos no última, onde o Freitas encomendou o almoço, lagosta e peixe grelhado, mas ainda não se sabia qual, uma vez que o peixe estava a chegar num dos barcos que avistámos depois, no morro que fica por cima da aldeia. Morro esse, de onde consegui “caçar” uma águia, cuja foto não faz jus à sua beleza. Morro esse de onde avistei a aldeia com sua nova e importante construção, a ponte, a nova ponte que liga directamente a aldeia à praia da Barra do Dande. O Freitas contou-me que colaborou na demolição da ponte antiga, com o objectivo estratégico-militar para evitar que a UNITA avançasse por ali para a capital, daí também a razão da estrada que liga este pequeno paraíso a Luanda estar bem conservada, aliás, reparei que as estradas a norte e sul de Luanda estão minimamente conservadas e isso tinha precisamente a ver com o estabelecimento de um perímetro de segurança do MPLA sobre a capital, com alguns kms que eram constantemente patrulhados, mas é claro que a guerra civil já acabou, no entanto estava na hora de fazer um feroz ataque às lagostas e o recém-chegado cherne, que apesar de grelhado não ficou “seco” e tão bem que estava acompanhado por o funge de mandioca, batata doce e banana assada, e folha de mandioca cozida e ralada, no final desta delicia, pagamos metade do valor de uma refeição em Luanda, naquele restaurante de terra batida com apenas 2 funcionárias (mãe e filha) 4 facas para amanhar o peixe e marisco 1 grelhador 3 alguidares, organizados, 1 para o peixe e marisco, outro com água, e o 3º para os restos não desejáveis. Simples, não? É nestes pequenos momentos mais simples, que nos sentimos mais próximos da natureza. Gosto desta africa, mas não romantizem, ali na Barra do Dande, não há rede eléctrica, agua ou esgotos canalizados nem cobertura de telemóveis.
Voltando um pouco atrás, a guerra já acabou, mas ainda assim tive que baixar a máquina fotográfica quando passávamos por edificações militares. Podem prender-te por isso, disse o Freitas. E assim perdi boas fotos, como a de um homem que estava com o braço esticado na estrada (perto de um quartel), e não, não estava a pedir boleia, mas sim a segurar uma perna de veado (para venda), ainda por esfolar, isto passou-se a caminho do Caxito (um pouco mais para o interior) onde passamos pelo famoso “jacaré bangão” (acho que é assim que se escreve) está relacionado com o tempo do colonialismo, em que em certa altura foi criado o boato, que até o jacaré do rio dande pagava imposto (foi a versão que me contaram).
Já são 17h00, o sol começa a anunciar a sua saída do palco, e na paragem seguinte paramos perto do cruzamento Luanda-barra do dande-caxito, onde aproveitei para tirar a minha melhor foto de imbundeiros até à data, foto esta que um dia ainda há de servir de publicidade ao banco BIC, cujo logotipo é um imbundeiro. Entramos no carro e voltamos para Luanda, onde chegamos já de noite, e com a escuridão na noite, cresceu também a minha ansiedade para viajar na manhã seguinte para o Huambo.

05 novembro, 2006

Domingo, dia Santo!?!?!?

Luanda, 15 de Outubro de 2006 +/- 28ºC
Acordo, são 8 horas da manhã, é domingo o que representa a seguinte dificuldade, o que fazer? Está combinada uma saída à praia, mas vai tardar um pouco. Posto isto, tomo o religioso banho matinal, o pequeno almoço, e ajeito a máquina fotográfica para o passeio, mas o tempo passa devagar... ainda não são 9horas, e eu
enclausurado em casa. Para ajudar a festa sucede o indesejável, uma falha de electricidade... ainda sem o gerador instalado, penso, Sem ar condicionado vai ser ainda mais difícil manter-me em casa, fico como um leão impaciente às voltas dentro da jaula, (embora esta jaula tenha o efeito oposto) e é quando decido descer e dar um curto passeio pedonal no bairro.
É diferente passear sozinho nas ruas de Luanda, sinto agora que sou o “tipo de cor” e é um pouco constrangedor, mas ao avançar e depois de receber meia dúzia dos sempre simpáticos “bom dia vizinho” ganho animo. Sem querer abusar (andar sozinho na
rua) volto a casa e recebo o telefonema para ir à praia, nomeadamente à praia de sangano, que fica acerca de 120km a sul da capital.
Saímos de Luanda por volta das 11h00, rumo a sangano, com cerca de 120km para percorrer aproveito a hora e meia de caminho para observar e tirar algumas fotos da envolvente. Para sair de Luanda, tem que se passar nos musseques, ou seja, um género de miséria em estado concentrado, o que nunca é bom de ser ver.
Passámos pelo Morro do Veado, que tem uns imbondeiros (arvores com o troco muito largo, vejam na foto) que no por do sol fazem com que este se assemelhe com a silhueta da cabeça do animal que lhe dá o nome. Segue-se a famosa ilha do mussulo e a ponte sobre o rio kwanza (foto) (rio que dá nome às notas angolanas). Nas margens do rio kuanza, passou-se um episódio engraçado. Falava-se com um "ancião" da aldeia, quando lhe perguntámos se podíamos tomar banho no rio sem ter problemas com os crocodilos, que estavam na outra margem, ao que ele respondeu, Aqui pode tomar banho, deste lado aqui não tem qualquer problema, o crocodilo não passa para cá, Mas como é que não passa para cá? Crocodilo não passa para cá! é lei do colono, respondeu. Percebi depois, que a lei do colono é baseada na lei das correntes do rio, ainda assim, lembrando o principio da incerteza de Heisenberg, o melhor foi mesmo não arriscar. Finalmente chegámos à praia de sangano, água com 20 e poucos graus, mas tinha um pouco de corrente. Depois de secos, fomos tratar de alimentar a carcaça. Almoçámos no restaurante da praia. Para entrada atracaram na mesa uns carangueijos do tamanho das sapateiras (em Portugal), que tão bem que sabiam a mar, depois vieram as lagostas grelhadas, e por fim o melhor choco grelhado que comi até hoje, tudo isto acompanhado pela famosa Cuca (cerveja) que é feita com milho ao invés da tradicional cevada, que lhe confere um sabor menos amargo e é mais leve no estômago, dizem eles que “faz menos barriga” mas olhando para eles... não me parece. O restaurante fica mesmo ao lado de uma pacata aldeia de pescadores, que juntos enfrentam a fúria do mar, mas também desfrutam da sua beleza e riqueza (peixes e mariscos) que os pescadores trocam por outros bens (pão, leite, carnes...) com o restaurante. Ali naquela aldeia não vi riqueza material, mas há paz e na simplicidade de outro mundo, as crianças parecem ser felizes.
Na volta para Luanda, parámos no Miradouro da Lua, onde se notam-se bem os efeitos da erosão. Dizem que em tempos o mar estava mais avançado e terá sido a causa deste efeito, também me contaram neste miradouro há muitas cobras, eu cá não as vi, mas devem andar algures por lá. E assim se passou uma bela tarde de domingo.



30 setembro, 2006

Duas ilhas e um canal


Para os que não sabem, passei 1 semana de férias (9 a 16 de Setembro) nos Açores.
Faial, Pico e o canal, de que fala Vitorino Nemésio no seu livro "Mau tempo no canal" foram regalos dos meus sentidos. Numa semana em que quase tudo parecia ter parado, ali, a vida corre mais devagar, no entanto vive-se mais, há mais tempo para as coisas mais importantes. Com enormes dificuldades de expressão, e com o cliché "é daquelas coisas que se sentem, mas não se sabe explicar" apenas digo que a Ilha teve uma arrebatadora influência sobre mim, senti-me mais humano, mais próximo dos outros e da natureza.

08 setembro, 2006

Apresentação

Benvindos ao Ecos. Passando às apresentações:

Utupos - fundador da ilha tão procurada e nunca encontrada, que fica em toda a parte e em parte nenhuma, ou somente dentro de nós. Sabendo que nunca a irei encontrar, é no caminho da procura que me defino, e são algumas marcas desse caminho que aqui deixo.

Ecos - espero que os meus pensamentos, criticas, agradecimentos, elogios, contemplações, entre outras expressões, tenham alguns efeitos fora deste ecran, caso não seja possível, estarão sempre aqui... em toda a parte em em parte nenhuma :)

D.Quixote - Sou eu :}