22 fevereiro, 2007

... Branco-Negro e Negro-Branco


No caso das ex-colónias Portuguesas em Africa, poderão considerarem-se que 3 décadas depois das independências, não sejam suficientes para resolver os traumas e outros problemas originados por mais de 500 anos de opressão, e exploração colonial.
30 anos após a independência destes países, verifica-se que continua a opressão e exploração e que apenas ganharam outras formas e outros protagonistas de cor de pele diferente.
Esta situação associada a entrada descontrolada de investidores, e quadros técnicos da cor dos ex-colonos, e perante o desleixo deliberado ou não dos governantes destes países africanos, vai dando origem a uma onda generalizada de racismo.

Tive a oportunidade de ler num jornal semanário, o seguinte:
“...A tensão sobe e nem a África Ocidental é poupada. De Abidjan a Lomé, jovens africanos exigem uma «segunda descolonização» e acusam os franceses de «neocolonialismo». Na África lusófona, também se discute o lugar dos brancos.”
Relativamente à ultima frase, tive duas experiências nas ultimas semanas que a tornam mais consistente.

Há uns dias, em conversa de restaurante, um conhecido meu que é mulato e angolano estava a dizer o seguinte:
“Estamos a ser novamente colonizados... pelos Chineses, Portugueses, Brasileiros...”
Fui completamente surpreendido pela expressão de revolta que vi no seu rosto quando proferiu a frase.
Outra experiência, foi uma conversa que tive com o fiscal que é angolano. Dizia-lhe eu a certa altura, que muitos portugueses estão a vir para cá, porque Angola tem falta de quadros técnicos, resultado de 1 guerra de 30 anos. Diz-me ele: não engenheiro, está enganado. Aqui o angolano continua a ser explorado, pagam-lhe menos do que a um português, para as mesmas funções.”

Agora não interessa se o fiscal tinha razão ou não. O que interessa retirar daqui, é o sentimento das marcas do colonialismo que ainda estão bem presentes neste continente, revestidas por uma capa de racismo que se vai tecendo sem que muitos dêem por isso. É importante que os governos Africanos tenham mais atenção e cuidado com esta questão.
Digo isto porque por exemplo, o governo sul africano impôs por lei, que haja acesso de empresários negros a uma certa percentagem dos capitais sociais das empresas. Só por serem negros, não interessando se são ou não bons empresários, e isto também está a ser aplicado na administração pública e forças de segurança.
Para uns poderá aparentar ser uma boa medida, mas no entanto, criam-se tensões junto dos brancos sul africanos. Pergunta simples: Leis que diferenciem o individuo pela cor da pele, não serão Apartheids? Não acho que Agostinho Neto, Amílcar Cabral ou Nelson Mandela, que lutaram pelos ideais que também defendo, estivessem de acordo com este tipo de medidas.
Tal como o que se passa, no médio oriente, conflito Israel-Palestina... esta questão também vai passando ao lado da Europa, cada vez mais fechada sobre si mesma.

19 fevereiro, 2007

Fotografia em palavras

O dia está lindo, o sol brilha, o céu apresenta-se num azul vivo e com grandes flocos de algodão branco a flutuar.
Pela periferia da cidade, encontro-me a conduzir descontraidamente a pickup numa estrada de terra batida e vermelha como sempre, limitada por bonitas arvores e pessoas que passam de ambos os lados da estrada. Pessoas que na sua maioria são africanos rurais, daqueles que têm aquele encanto natural.
É domingo, e aproveito para ver com melhor detalhe aquilo que me escapa nos outros dias.
A determinado momento, cruzo-me com um “mais velho” dos seus 70anos com o seu corpo magro e seco enfiado num fato azul, camisa branca e gravata da cor do fato, andando a pé, ostentando uns velhos sapatos pretos engraxados. Vai orgulhosamente caminhando, e pegando de forma elegante no guiador da sua motorizada (tipo zundap) que apresenta-se nos mesmos modos do seu dono. Com os cromados do guiador e rodas a brilhar, bem como o vermelho do deposito. Atrás dele vem uma jovem, também ela a preceito, com um bonito vestido típico africano. Ainda consigo visualizar o padrão aos losangos pretos e castanhos desse vestido. Pode ficar a questão, filha ou namorada, mas não é o que interessa.
O mais importante é esta imagem ter ficado retida na minha mente, e cuja beleza queria partilhar convosco.
Gosto de fotografia, mas ainda não ganhei ousadia para fotografar pessoas. Até lá, vou tentando usar as palavras.

16 fevereiro, 2007

My dear body, don't let me down

Ontem pensei no meu corpo.
Este fiel companheiro, o amigo mais seguro, melhor conhecido por mim que a minha alma, não passa afinal de um monstro dissimulado, que acabará por devorar o seu dono. Ainda assim, amo o meu corpo, tem-me servido bem ao longo destes anos, mesmo apesar de alguns mal tratos que tenho-lhe dado.
Tem sido o meu veículo a locais magníficos, por outro lado, a prisão das mais ousadas ambições da alma. Amo-o nesta condição, de saber que um dia serei devorado por ele, mas até lá, sei que haverá amor entre nós.

13 fevereiro, 2007

TENSÃO MUNDIAL - GUERRA FRIA PARTE 2

Há um clima de tensão instalado entre os senhores da guerra, que na minha opinião está a originar uma Guerra Fria – Parte 2.
Vejamos os factos:
- Os EUA, viram recentemente aprovada a sua proposta para instalação de sistemas inteligentes anti-misseis, em 2 paises do bloco este da UE, Polónia e Republica Checa.
Argumento dos EUA: Queremos que os nossos amigos e aliados tenham maior protecção contra uma eventual investida do Irão ou da Coreia do Norte sobre o leste da Europa. (Claro que a Rússia não gostou desta posição)
A mim soa-me mais a medidas preventivas para tomar a ofensiva.
- Janeiro 2006. Os EUA enviam 2 porta aviões para o mar do golfo, e de 20.000 soldados para o Kuwait.
Argumento dos EUA: Garantir a segurança das explorações petrolíferas no Kuwait.
Parece-me a mim que já ouvimos isto antes, em outro mandato. Lembra-me o Pai do Cowboy
- Rússia assina contrato de fornecimento de dezenas de baterias anti-misseis, com o Irão;
- 3000 trabalhadores Russos a trabalhar no estaleiro central de enriquecimento de urânio no Irão... Hummm a mim cheira-me a Escudos Humanos, sem duvida, jogada estratégica destes dois países. (Claro que os EUA não gostaram desta posição)
- Coreia do Norte disponibiliza ao Irão, o apoio tecnológico para a realização de ensaios nucleares subterrâneos.
- China e Rússia votaram contra a resolução das Nações Unidas sobre a situação de violação de direitos humanos em Myanmar, que é a antiga birmânia.
Questão de Fundo: O mesmo de sempre... Interesses: Petróleo em troca de armamento.
- Lembram-se da tensão nuclear Indo-Paquistanesa... Caxemira, pois...
- A China procura circundar a Índia de forma estratégica, com uma base naval no Paquistão e mantendo laços estratégicos com Myanmar.

Bom... não sendo analista da matéria, nem entendido em estratégia politico-militar, este conjunto de noticias que juntei (fora outras mais, das quais não tenho conhecimento) fazem com que a designação deste situação: Guerra Fria - Parte 2, não seja fruto de conspirações, mas sim, de uma certa tensão, tendo como cenário principal o IRÃO.
Se estou do lado dos Americanos ou do “Eixo do Mal” é uma questão que nem se coloca para mim. A questão fundamental é que ambos estão do outro lado, do lado da ganância pelo poder associada ao casamento mais duradouro que conheço... Politica-Religião, a politica onde se definem as estratégias de conquista do poder, e a religião que tão bem serve para manipular os povos.

09 fevereiro, 2007

Fotos atrasadas da viagem Huambo-Benguela em Dezembro 2006
































Tributo ao Bino

marcas que o Bino deixou ao entrar no céu
Casaco Orfão

Trouxe-te um casaco.
Já foi bonito e auspicioso
Este casaco,
Feito de um tecido brioso.

Não sei que hei-de fazer
A este jovem casaco
Cuja cor acabou por perder
E tão vazio que está, que não passa de um trapo

Ora trapo, ora fardo
Vou carregando este casaco incolor
Que pesa alguma dor
e lágrimas do teu fado
que caem no pó desta terra, vermelha de cor.

08 fevereiro, 2007

Estamos Juntos

Foto sobre as nuvens do Huambo - Nova morada do Bino

Foi uma peça que se partiu cá dentro. Talvez tenha reparação na oficina do tempo, onde quase tudo se concerta. No entanto, o tempo passa, e a dor permanece. Doi-me olhar para o passeio onde já não saltas, corres e sorris. Dói-me, olhar para o jardim e não te ver deitado na relva a olhar para o céu. Dói-me, olhar para o lancil, onde sentavas o teu orgulho, rejeitando a esmola por estares aborrecido comigo, Dói-me por já não estares lá. Sinto em mim a ausência do brilho do teu olhar, e a cândida frescura desse sorriso. Conforta-me neste tormento, a memória e as lições que me deste sem saberes. Conforta-me a sorte que tive em conhecer-te.
A tua estadia foi demasiado curta, mas deixou marcas tão profundas, que tornaram-me mais perfeito. Pensando bem... nunca te dei esmola, afinal fiquei em divida contigo.
O'mbembua Tuapandula!

04 fevereiro, 2007

luto de Luto

Em memória do Bino,
+1 míudo (6 anos) vitima mortal de Anopheles



estando com pouca inspiração, deixo-te a musica do Paulo de Carvalho


Os meninos à volta da fogueira

Com fios feitos de lágrimas passadas

Os meninos do Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia

Com os lábios de dizer nova poesia
Soletram as estrelas como letras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras

Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade

Com os sorrisos mais lindos do planalto
Fazem continhas engraçadas de somar
Somam beijos com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar

Dividem a chuva miudinha pelo milho
Multiplicam o vento pelo mar
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Constelações que brilham sempre sem parar

Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade

Palavras sempre novas, sempre novas
Palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo

Assim contentes à voltinha da fogueira
Juntam palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo

Puto Cagão,
Estamos a sentir a tua falta... Até logo.